Quando eu tinha 4 anos, o meu irmão mais velho foi aceite na Universidade de Cape Town (UCT). Eu lembro-me claramente do dia em que ele saiu de casa como se tivesse sido ontem. Quando eu tinha 6 anos, a minha irmã também foi para a UCT. E quando eu tinha 12 anos a minha outra irmã foi para a Universidade de Pretória.
Eu cresci a ver os meus irmãos todos a irem viver na África do Sul. E quando ia lhes visitar a vida deles lá parecia espectacular. Não havia Mamã e nem Papá lá para lhes controlar. Eles usavam a mesada como bem entendiam e saíam e voltavam de casa sem dar explicações a ninguém. Parecia uma maravilha e eu não conseguia esperar até chegar a minha hora de ir para África do Sul também.
Quando cheguei ao 12 ano começou a batalha de escolher universidades, fazer lista de requisitos, lista de acomodação, lista de tudo e mais alguma coisa. Até lista de cursos tive que fazer. O que eu queria mesmo era estudar música, mas essa ideia foi esmagada mais rápida do que uma mosca na mesa do almoço. Então tive que forcar-me a encontrar um curso que iria ser a minha carreira para o resto da minha vida. Esse foi o meu primeiro erro. Achar que podia decidir o resto da minha vida com uma lista de cursos que encontrei num panflete da UCT. Mas não é isso que muitos do jovens acabam por ter de fazer? Chegam ao 12 ano e são obrigados a escolher uma carreira por bem ou por mal.
Eu estava tão ocupada e absorvida com o processo de candidatura e de escolher um curso que nem tive tempo de pensar na mudança de vida que estava a caminho. Não me passou pela cabeca o facto de que em breve ia estar completamente sozinha num pais novo e nem que ia passar de uma criança que tinha motorista e empregada para uma adulta com responsabilidades como fazer o rancho, cozinhar, limpar e andar a pé para a universidade. Além do processo de candidatura, a única coisa que me passava pela cabeça era aquela fantasia que tinha de ser livre e dona do meu próprio nariz.
Eu Novembro recebi um email a dizer que estava na lista de espera. Em Dezembro ainda esta na lista de espera e conseguia sentir o pânico a tomar posse dos meus sonhos. Em Janeiro já tinha feito as pazes com a ideia de não ser aceite. Mas, como dizem, a esperança é a última a morrer. No dia 14 de Janeiro de 2013, à 21:30h decidi abrir o meu email. Antes de o abrir preparei-me para o desapontamento que viria depois de ver que, mais uma vez, não haviam notícias. Mas não foi bem isso que aconteceu. Havia lá um email da University of the Witwatersrand. O meu corpo inteiro ficou paralisado excepto o meu coração. Parecia que tinha bebido 10 latas de Red Bull e ele estava a tentar fugir do meu peito. O email era uma carta a dizer que tinha sido aceite. E foi aí que a minha vida inteira mudou. Mais do que eu poderia imaginar.
Uma semana depois estava com as malas arrumadas e pronta para voar para Johannesburg. Pronta para começar a viver a vida espectacular com que tinha sonhado. No dia da inscrição na universidade queria fazer tudo sozinha. Nem queria que os meus pais entrassem na universidade comigo. Aliás, não percebia porque eles ainda estavam em Johannesburg. Eu estava com pressa de começar a viver o meu sonho de independência e eles estavam a atrasar-me. Com tudo o que estava a acontecer ainda nao tinha tido tempo de pensar no que realmente estava a acontecer nem de olhar ao meu redor. Assim que eles se fossem embora eu estaria sozinha num lugar desconhecido. Dois dias depois chegou a hora de eles se irem embora. Quando eu vi as malas na porta e a carteira no ombro da minha mãe o que estava a acontecer finalmente fez-me despertar. Senti como se tivesse levado uma chapada vinda da minha nova realidade. E claro como a “adulta” que era comecei a chorar como um bebé. Nunca vou me esquecer do olhar de choque na cara dos meus pais. Tinha passado o fim de semana todo a tentar lhes mandar embora de Johannesburg e quando eles finalmente estavam prontos para se irem embora eu entrei em pânico. Lembro-me também da fúria que senti quando comecei a chorar. Não acreditava que os meus pais, que tinham a obrigação de me proteger, estavam realmente a abandonar-me numa cidade perigosa como Johannesburg. Bem, eles se despediram e se foram embora. E foi aí que comecou a maior aventura da minha vida. Posso dizer com toda a certeza que o ano de 2013 foi o ano em que chorei mais em todos os meus 26 anos.
